“The Runaways”, que embienta-se principalmente no sul da Califórnia em meados do ano de 1970, envoca o seu momento e em um meio afetuoso, quase uma fidelidade misteriosa. É debaixo de um sol quente num terreno baldio de carros tunados e barracas de hamburgueres, duas jovens atrizes do século 21 interpretam as personagens principais e parecem se adaptar bem. Dakota Fanning e Kristen Stewart, que interpretam Cherie Currie e Joan Jett, vocalista e guitarrista da banda que dá o nome ao filme, nasceram há muito tempo atrás, depois que o livro se fechou para a versão original da banda The Runaways, mas a seriedade e a auto-confiança que elas encorporam para seus papéis percorre um longo caminho para estabelecerem um senso de autenticidade.
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Ajuda que Floria Sigismondi, diretora de clipes musicais que está fazendo sua estréia em longa metragens, tem um bom ouvido e olhos afiados para detalhes de época. Filmado (por Benoît Debie) com um tom granulado e besuntado que invoca a década tão eficientemente quanto as roupas e cortes de cabelos, “The Runaways” balanceia a nostalgia por um passado selvagem com um senso cauteloso de seus lados menos heróicos. Reconhecendo o descarado, a energia rebelde do rock’n’roll na aurora do punk, a sra. Sigismondi também mostra os custos que um amor ardente e ambicioso pela música pode ocasionar.
O filme é uma consequencia de duas biografias, cronicando os destinos divergentes da Sra. Jett (que é a produtora executiva) e da Sra. Currie (cuja biografia foi a base para o filme) enquanto aprendem a tocar música e depois em como lidar com a fama. Elas começam como fãs, mas suas aspirações para rivalizar seus ídolos são obstruídos pelo sexismo de longa data. “Garotas não podem tocar guitarras elétricas”, um professor de música informa presunçosamente para Joan; Cherie, que idolatra David Bowie, é humilhada em público quando canta sua música “Lady Grinning Soul” no show de talentos da escola.
Joan, uma cheiradora de cola, magra e taciturna que aparenta a versão jovem andrógina de Keith Richards, é a mais diciplinada das duas, mas sua grande chance vem com a cortesia de Kim Fowley (Michael Shannon), um promotor que aceita as garotas embaixo de suas asas não totalmente benevolentes. Após Joan abordá-lo em uma boate com a idéia de começar uma banda só de garotas, Fowley recruta a tímida e sonhadora Cherie e outras jovens garotas, colocando-as em um regime de treinamento rigoroso em um trailer. Ele as ensina em como lidar com os agressores, a rugir, gemer e escorar como seus ídolos masculinos, e prega um apaixonado se não uma marca auto-contraditória de macho feminista. “Isso não é sobre o anseio feminino” ele enxulta, um galo preparando suas galinhas para batalha. “É sobre o líbido da mulher”.
Sra. Sigismondi, enquanto analisa essa distinção, é astuta em reconhecer que o sucesso da banda The Runaways foi abastecida pela volátil mistura de capacitação e exploração. As garotas, tímidas em seus aniversários de 18 anos, tocam seus próprios instrumentos e escrevem a maioria de suas músicas, mas seus próprios Svengali sem vergonhas tem todo o controle e ficam com grande parte do dinheiro. (Bem vindo à industria da música!). E a versão de garotas do pop que vendem suas bandas para registrar compradores e pessoas que frequentam shows, não é exatamente Hannah Montana, ou mesmo Britney Spears. Elas são anunciadas como “genuínas iscas de prisão” e “sem sutiãs”, e apresentadas ao mundo como felinas agéis – não modelos mas objetos sexuais.
Tudo isso – assim como a fácil disponibilidade de drogas e falta da presença de supervisão adulta – prova ser muito para Cherie. Sra Fanning, que se mostrou ser notavelmente disciplinada e uma atriz de auto-conhecimento desde que aprendeu a andar, exibe uma vulnerabilidade desoladora e um equilíbrio assustador. Cherie é o rosto bonito e a garota pinup da banda, posando para uma revista de cheesecake (por meio da persuasão de Fowley) sem o conhecimento de suas colegas da banda. Ela é também um tanto caseira, com uma próxima, porém complicada relação com sua irmã gêmea Marie (Riley Keough).
Joan, que claramente ama Cherie (o beijo entre a Sra. Stewart em Sra. Fanning virou assunto de talk show) é também sua rival e sua frustração. Joan é a espinha dorsal da banda, e a mais capacitada de tornar um conselho de Fowley em um programa profissional e próspero. E a Sra. Stewart, alerta e despretenciosa, dá ao filme sua coluna e alma. Cherie pode te deixar boquiaberta e te intimidar, mas Joan é a pessoa pela qual você torce, e a que todos os fãs de todos os gêneros e gerações do rock’n’roll vão se identificar.
Não é sempre claro qual história o filme “The Runaways” quer contar, e atinge um pouco demais um padrão de batidas biográficas. Aqui, bem quando você imagina, estão os contra-tempos e precipitados triunfos, as pressões das turnês e as armadilhas da celebridade. Mas a Sra. Sigismondi infunde cenas cruciais com um espírito picante e energético, e mostra a complacência na vontade de aceitar as contradições inerentes no material sem lascívia, moralidade ou muito sentimentalismo. O final pode ser um pouco inofensivo, mas em seu melhor, tem o toque selvagem necessário.
“The Runaways” é considerado para maiores de 17 anos. (Menores de 17 anos são obrigados a ter um acompanhante maior de idade).
Tradução: Luciana // Portal Twilight
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