segunda-feira, agosto 9

O brasileiro Walter Salles em OTR

O aclamado brasileiro Walter Salles cria estórias pessoais e com uma consciência social e que são emotivas sem serem manipuladoras e são simples sem ser simplistas. Entre elas: o audacioso “Terra Estrangeira,” a fábula da terra “Abril Despedaçado” e “Linha de Passe,” que premiou Sandra Corveloni como melhor atriz em Cannes. “Central do Brasil” colecionou dezenas de prêmios e recebeu indicações ao Oscar de Melhor Filme de língua Estrangeira e Melhor Atriz (Fernanda Montenegro); “Diários de motocicleta,” a história de uma viagem através do continente que moldou Ernesto (Che) Guevara, foi um sucesso internacional e grande ganhador de prêmios.
Com 54 anos, ele foi por duas vezes honrado com prêmios BAFTA, vai receber nessa semana o “Founder’s Directing Award” no festival San Francisco International Film Festival.
Essa entrevista foi compilada de conversas via e-mail com Salles (em abril / 2010).
Você cresceu sendo um privilegiado? Seus protagonistas são tão freqüentemente de fora desse mundo.
WS: Ambos os meus pais vieram de cidades do interior do Brasil, comunidades que tinham menos de 1.000 habitantes. Os dois tiveram um passado de classe média-baixa, e meu pai na verdade foi o primeiro de toda a família a fazer uma faculdade. Depois disso ele teve diversos tipos de vida: trocava café durante a Depressão, se tornou um homem de finanças e , depois, um diplomata. Eu sempre tive consciência desses dois mundos de nossas origens: um privilegiado e protegido e outro mais simples e rural.
As vezes, esses dois mundo se unem de forma inesperada. O melhor exemplo disso está ligado ao “Central do Brasil”. Quando o filme foi lançado no Brasil, um senhor que eu não conhecia veio até mim nas ruas do Rio e me contou que trabalhou com a minha mão na Central do Brasil, informação que eu não tinha quando fiz o filme. Como minha mãe tinha falecido muitos anos antes, eu perguntei a família dela sobre isso. Sim, era verdade. Quando a família dela migrou para o Rio, ela trabalhou durante dois anos como secretária da Estação Central do Brasil – no mesmo edifício em que eu gravei o filme 40 anos depois.




Os seus filmes tendem a se passar em circunstâncias socio-políticas específicas.
WS: A maioria dos filmes que eu fiz são sobre personagens tentando se reinventarem, seja por não terem outra opção, como foi em “Central do Brasil”, ou porque eles optam por isso como foi em “Diários de Motocicleta”. Essa é uma questão temática que você pode encontrar na maioria dos filmes os quais eu dirigi: personagens que vão em busca de uma identidade, muitas vezes em um país que passa também por mudanças desse tipo.
Você reviveu os passos de Guevara para fazer “Diários de Motocicleta.” Foi isso que desencadeou o seu interesse em adaptar a obra de Jack Kerouac, “On the Road”?
WS: Eu sou apaixonado por “On the Road” desde que eu li pela primeira vez, lá pelos meus 20 anos. Eu voltei a ele antes de gravar “Diários de Motocicleta”. A jornada do jovem Ernesto acabou gerando uma revolução política; “On the Road” é a expressão de um movimento que acendeu uma revolução comportamental. Quando fui convidado por Francis Ford Coppola e Roman Coppola a batalhar por “On the Road,” eu pensei que a única maneira de fazer justiça a ele seria investigar a década na qual aquela geração veio a existir, bem como o impacto que ela teve em nossa cultura. Então, com uma pequena equipe de três pessoas, uma velha câmera Super-8 e uma mini-DV, nós refizemos a rota que os personagens fizeram em “On the Road” (e entrevistamos artistas promissores da época e também os atuais que foram influenciados por Kerouac).
Então, o que eu estou terminando é um documentário em busca de um possível filme baseado em “On the Road.” O que mostrarei em San Francisco é uma edição de 60 minutos bastante impressionista, um trabalho em andamento de um documentário de 120 minutos. Só vai de fato ganhar vida quando soubermos que vamos ter condições de criar a narrativa do filme. Se a resposta for positiva, então a última cena do documentário será o primeiro clique da claquete do filme narrativo: “On the Road,” Cena 1, Take 1. {sbox}
Traduzido por: Monica // Portal Twilight

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