Bella Swan dá um adeus à abstinência e a mortalidade em A Saga Crepúsculo: Amanhecer – Parte 1, no qual a adolescente amante de vampiros se casa, engravida e é quase destruída por dentro pelo seu pequeno e alegre presente.
O mais desapontante, apesar, é que a história tão cheia de possibilidades dramáticas acabou com um sentimento de oportunidade não consumada.
Adaptado da estranhamente atraente e polarizada quarta obra de Stephenie Meyer, o filme é rico em prazeres superficiais, mas falta qualquer sentido palpável de perigo ou obscuridade, o que é um eufemismo para dizer que a Summit protegeu seu investimento muito bem. Aí vem uma bilheteria sobrenatural.
Os guardiões desta franquia enormemente popular (1.8 bilhões ao redor do mundo em bilheteria) seguiram de fato a cartilha de Harry Potter ao dividir o último livro em duas partes, assegurando uma trama mais fiel ao livro e, mais ao ponto, a máxima penetração nas bilheterias. O que pode parecer uma punição cruel e incomum para os fãs, entretanto, a parte 2, que promete uma guerra total entre os vampiros e onde Bella terá um papel crucial, está prevista para ser lançada em 16 de novembro de 2012, forçando a audiência a esperar quase um ano depois da parte 1 para devorar a segunda parte do filme duplo dirigido por Bill Condon.
Certamente o diretor mais prestigiado da série até aqui, Condon toma as rédeas com competência aqui, apesar de sua aproximação sofrer de uma certa anonimidade estilística que parece endêmica ao material.
Como qualquer gigante comercial, a saga Crepúsculo por natureza resiste a qualquer tentativa de transcendência, experimentação ou risco. Isso é especialmente lamentável no caso de Amanhecer, que é de longe a mais sem noção das novelas da série e teria se beneficiado de uma pitada de horror corporal Cronenbergiano e, restrições comerciais não obstantes, um desejo de ir além da classificação PG-13.
Dados os filmes de terror do começo de sua carreira, o camaleônico Condon teria sido mais que capaz de encarar o desafio se lhe fosse dada a chance.
As coisas começam felizes o bastante com um casamento, quando Bella (Kristen Stewart) diz “eu aceito” para Edward Cullen (Robert Pattinson) e se une a sua família de pálidos e benevolentes vampiros. Ainda violentamente contrário a essa união está o mehor amigo lupino e pretendente desprezado de Bella, Jacob Black (Taylor Lautner), especialmente quando ele fica sabendo que a senhora Cullen decidiu adiar a sua transformação em sugadora de sangue para depois de sua lua de mel brasileira.
Jacob está certo em se preocupar: apesar de filmado com o máximo de foco suave, e enrolados em edredons de bom gosto, a noite de núpcias do casal deixa Bella coberta de hematomas, a cama em frangalhos, e a audiência, presumivelmente, em um poço de êxtase.
Certamente esta deve ser a primeira série de filmes tão naturalmente temerosa do sexo (e ainda assim tão dependente do sex appeal) que mesmo as relações conjugais normais vêm com uma nota de cautela; nada mais assustador do que quando Bella, de repente, encontra-se com uma criança, meio humana, meio vampira, um fenômeno sem precedentes biológicos.
Até esse ponto, Condon e a roteirista recorrente da série, Melissa Rosenberg, traduziram o material em uma forma apreciável, digna de desmaios. O casamento de Edward e Bella na floresta pode parecer com uma extensão da Abercrombie & Fitch (a suíte de lua de mel deles tende mais à Pottery Barn), mas é um set ardente e descaradamente romântico. Até aqui, Stewart e Pattinson se mesclaram tão completamente com seus papéis e um com o outro que a visão da alegria matrimonial da dupla – delicadamente sombreada por esse sentimento de transitoriedade e perda, que atende as transições da vida, mesmo feliz – oferece uma recompensa emocional genuína.
Montagens com soft-rock e interlúdios com mergulhos sem roupa ao luar vêm sem esforço em Amanhecer – Parte 1. O filme é muito menos inclinado a ceder aos esforços necessários, uma vez que os recém casados voltam para casa e se acham sob ameaças de todos os lados. Fiel ao espírito masoquista e de auto-sacrifício que definiram a série, a agora abatida e sugadora de sangue Bella insiste em carregar sua criança-demônio até o fim, não apenas colocando em risco a sua vida (e sugerindo um fascinante e potencial debate médico), mas também incitando uma guerra total entre os Cullens e o bando de lobisomens de Jacob.
Toda vez que o filme se afasta de Edward e Bella para mostrar uma dinâmica de grupo mais ampla, a narrativa se arrasta e as falas do elenco ficam enfadonhas, em grande parte porque este estilo de dramatização está em claro desacordo com o ritmo do material original. Meyer, que não é uma grande estilista da prosa, mas uma contadora de histórias nata, coloca uma ênfase incomum nos dons sensoriais e extra-sensoriais. O fato de vários personagens poderem ler mentes, sentir cheiros e ouvir batidas de coração é de crucial importância para a narrativa que segue. Estes são modos de percepção fundamentalmente não cinematográficos e complicados, e que eles não tenham encontrado seus equivalentes visuais aqui não é nada surpreendente.
Mais fatigante é o fato de Lautner interpretar o papel chave de Jacob de forma tão suave. Uma interpretação mais feroz, cheia de testosterona, teria elevado a temperatura das cenas individuais e possibilitado ao ator se sair melhor em relação a Stewart e Pattinson. No campo de ação, a produção mostra uma queda significativa em relação ao superior “Eclipse”: duas cenas de combates noturnos entre lobos e vampiros são tão sem emoção e mal iluminadas que alguém pode achar que são culpa de efeitos de computador mal feitos. Com alguma sorte, são apenas um aquecimento para o combate sobrenatural, mas épico, que se desenvolverá durante o próximo ano.
Matéria original: Variety | Tradução: Foforks
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