Escrito na primeira metade de 1951 e lançado somente em setembro de 1957, “On the road” (título original) é um ícone do movimento e da literatura beat e conta a história de amigos nômades, sem dinheiro e despreocupados com a vida adulta, que tomam a estrada como lar em um mundo onde o sexo livre, as drogas e uma natural irresponsabilidade parecem servir como guia.
Tal simplicidade e espontaneidade diante das coisas da vida estão escancaradas, desde o início, nos personagens de “Na estrada”, o filme. A trama acompanha Sal Paradise (Sam Riley), um escritor principiante de Nova York que, logo após a morte de seu pai, decide seguir em uma jornada de indas e vindas pelas estradas dos Estados Unidos (e até do México) com seu amigo Dean Moriarty (Garrett Hedlund).
Surpreendente no papel de Marylou, Kristen Stewart vive uma espécie de namorada/amante de Moriarty que está sempre de olhos abertos para outros homens. Embora ela não chegue a roubar a cena do longa, é essencial para a beleza do todo, parecendo finalmente se entregar a um papel que teoricamente não lhe cairia bem. Marylou tem uma sensualidade natural e convincente, algo visto em cenas de dança, nudez ou até em momentos mais sutis. Em uma das cenas mais ousadas, especialmente para um filme de Hollywood, Moriarty, Paradise e Marylou decidem ficar completamente nus no carro. A garota, então, masturba os dois homens, enquanto um deles dirige de forma imprudente por uma estrada tipicamente americana.
O bom e numeroso elenco impressiona. Além do trio principal de atores, “Na estrada” conta ainda com Amy Adams, Kirsten Dunst, Viggo Mortensen, Terrence Howard, Steve Buscemi e a brasileira Alice Braga. Talvez pela quantidade de personagens, há momentos em que fica fácil se perder em meio a tantos acontecimentos, mas nada que atrapalhe o andamento de “Na estrada”.
Com uma excelente caracterização da época – os acontecimentos se passam entre a segunda metade dos anos 40 e o começo dos 50 –, o filme apresenta uma trama moderna até para os dias de hoje. A história do livro “Na estrada”, frenética em acontecimentos e rica em sentimentos e sensações, é difícil de ser contada em poucas horas. Por conta disso, algumas passagens parecem acontecer de forma muito rápida e pouco explicada, principalmente na segunda metade do filme.
De qualquer maneira, a direção de Walter Salles é natural e competente. Mesmo com o contexto que tem como núcleo a geração beat americana, o cineasta brasileiro consegue passar bem o frescor de uma juventude que não se preocupa com muita coisa além de sua própria liberdade. “Na estrada” é o trabalho de um diretor maduro internacionalmente e uma boa representação daquele que é um dos livros mais importantes da literatura dos Estados Unidos.
Fonte: G1
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