quinta-feira, agosto 26

Crítica ao script de ‘On the Road’


Em 1951, depois de três viagens de carro através do país, Jack Kerouac escreveu sua obra essencial: On the Road. O livro, publicado com um rolo contínuo de 37 metros, consiste em crônicas de suas aventuras (com o codinome de Sal Paradise) com Neal Cassady (renomeado Dean) por meio de experiências com drogas, sexo, jazz e poesia que alteraram a sua vida . Agora o livro está virando filme, 31 anos após Francis Ford Coppola obter os direitos da adaptação.
As filmagens da por tanto tempo atrasada adaptação estão finalmente acontecendo. Walter Salles, cujo Diários de Motocicleta tem na bagagem temas similares de encontrar a si mesmo um uma viagem por estradas abertas, está dirigindo um elenco estelar e o intimidável Coppola está como produtor executivo. Para celebrar eu li tanto os rascunhos (brancos feitos para a produção) de junho de 2005 e de Maio de 2010 do script de José Rivera, quem colaborou com Salles em ‘Diários’ por uma muito merecida indicação ao Oscar. Logicamente, essa é só uma avaliação desses rascunhos e não do filme ainda inacabado:
**SPOILERS**



Os scripts iniciam com um apartamento no Queens, onde o pai de Sal Paradise, em estado terminal de câncer, dá o seu último suspiro por através de um filtro de cigarro e parte para uma melhor nos braços de Sal. No funeral, fica claro que esse foi um momento importante de sua vida de jovem adulto; o triste mas doce início de um novo capítulo. Sal (Sam Riley), descrito como “antiga estrela de futebol americano na faculdade e agora um escritor que vive na luta,” bebe para afogar sua mágoa com o seu amigo “pensativo, com estilo magricela e desleixado” Carlo Marx (interpretado por Tom Sturridge), também um escritor em dificuldades. (Marx é o alter-ego de Allen Ginsberg.)
Juntos eles são apresentados para Dean Moriarty (Garrett Hedlund), vestindo nada mais que “um sorriso sedutor de um homem trambiqueiro” em seu belo rosto. Essa entrada nua estabelece instantaneamente o espírito livre e a atitude sexualmente carregada de Dean, mas a cada encontro subsequente e similar a esse vem a demonstrar “o crescente turbilhão de testosterona, energia e apetite” do grupo conforme o tempo e a maturidade.
Se distanciando dos primeiros rascunhos, Rivera inclui os primeiros momentos da amizade de Sal com o carismático Dean, que virá a ter uma profunda e inspiradora influência em sua vida, ao invés de saltar para a sua amizade já progredida. Essa é uma mudança crítica pois o rascunho mais novo foca na trajetória dos laços entre eles fortificados através das viagens exploratórias de carro, ao contrário de ser a história de Sal buscando consolo e inspiração em suas viagens.
Os dois rapidamente se tornam amigos, mas Sal desenvolve uma adoração heróica por Dean que o cega da vaidade egoísta e comportamento irresponsável do amigo. Rivera compara Dean a Jesus na última ceia quando em uma cena ele passa uma xícara de café batizada com Benzedrina e inicia outra conversa existencial sob o efeito da “benny.” Essa é uma de muitas demonstrações cheias de drogas da exuberância jovial sem limites, freqüentemente celebrações de sua liberdade, e precursores de vôos sexuais inusitados (sexo a três, orgias, nudez em público, e experimentos homossexuais). Essa atitude desvairada serve de contraste extremista para uma sociedade pós-guerra provocada pelo McCarthyismo e inibida por princípios conservadores.
Na primeira viagem de Sal ele conhece Terry (Alice Braga), uma bonita garota “Chicana”, em um ônibus para Los Angeles e eles dividem o mesmo gosto pela estrada. Cara a cara com a perspectiva de se tornar um agricultor e homem de família, Sal dá no pé, ele não está pronto para se aquietar… ainda.
Mulheres vêm e vão em suas vidas, normalmente ligadas a Dean, mas que representam algo diferente para cada um dos jovens rapazes. Por exemplo, Marylou (Kristen Stewart) é apresentada como a esposa de 16 anos de Dean (nu, é claro) e um espírito livro, uma ninfeta sexual no meio dos garotos. Mas Sal imediatamente se interessa pela “beleza sutil e natural” dela e eles trocam olhares fugazes e flertes e falam sobre morar juntos.
A outra esposa de Dean, Camille (Kirsten Dunst), personifica a responsabilidade que ele deixa para trás pelas estradas, e é para Sal a figura de uma eventual vida caseira e feliz.
De volta à estrada, Dean, Sal e Marylou conhecem o afável Ed Dunkel, a sua esposa durona Galatea (provavelmente Elisabeth Moss), o “brilhante viciado em drogas” Old Bull Lee (Viggo Mortensen, descrito como “com 35 anos mas parecendo 95″, e a sua esposa “que um dia foi linda” Jane (Amy Adams). Com esses dois casais, Sal aprende como fazer um relacionamento durar por muito tempo e tem pela primeira vez o desejo de encontrar uma mulher adequada.
Rivera une peças intermitentes da prosa poética de Kerouac com a história do amadurecimento e auto-descoberta de Sal, mas também põe a sua marca no roteiro. Um pouco sobre o desgosto de um escritor e o contexto histórico das suas explorações estão presentes; mas o que talvez seja mais impressionante é o controle que ele tem sobre a energia dos personagens, da espontaneidade selvagem à gradual desilusão de Sal.
Salles, Coppola, e um elenco talentoso já deixaram muitos animados com o filme a ser lançado em 2011, mas o script de Rivera deveria ser o maior e melhor motivo para ansiarmos por On the Road.
Traduzido por: Monica // Portal Twilight

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